Abertura da Exposição: "A imagem antes da obra e depois dos olhos" ADENTRO


A imagem antes da obra e depois dos olhos

Isso tudo é só o prólogo.

Veremos depois, que todas as coisas tem um pouco de antes.

O ínfimo objeto-vestígio, plantado ou nascido na areia, é recolhido e colecionado pela imagem. Mas quais eram as coisas que, olhadas em sua imensidão, precederam nos olhos esse interesse pelas miudezas? Um movimento exato tece cores e sonoridades mecânicas, como o barulho de viver: nem mais, nem menos circular. De que movimentos errados, bruscos ou suaves, retos demais, de inércia ou de exaustão, foram feitos o silêncio e o branco que antecedem a obra? O sol se põe ao redor de uma silhueta modelando seu ensimesmamento. Ela encena a si mesma e se fotografa. Que desejos precipitaram o encontro do corpo com sua forma? Porque meus olhos viram, já não há culto, nem culpa prévia pelo esquecimento. O que era aquilo que me deixava cego e sem memória a ponto de não saber que Deo Ignoto era eu? Os folhetins de horários de ônibus já não dizem para onde, nem quando. Eles dizem alguém. A viajante sabe quem, porque observa, talvez invente. E não importa. - É só uma poética, vai descer na próxima parada. Mas que ônibus ela esperava quando desistiu de saber a hora? Escolhas. E quando não havia mais de uma opção? Uma estética da dor pode ser também a estética de uma existência, na dor mais prolongada, aquela adquirida no tempo, que uma mulher passa a carregar na constituição do seu corpo. Que sensações outras predominavam para que essa dor viesse? Embrenhar-se no que se passou antes da imagem é também criar outras. O antes é consistente matéria poética. Os trabalhos da exposição A imagem antes da obra e depois dos olhos conjugam-se pela antecipação de suas existências, elemento importante de seu sentido. Cada um, em instantes diferentes, é prenunciado por algo que depois se compõe com seu desfecho. Mas, um desfecho de visibilidade provisória. Então o que vemos passa a ser apenas um momento da imagem, aquele que o artista optou por mostrar. A ação do artista sobre seu próprio ser, naquilo que não fez, ou fez antagonicamente ao ato fundador da obra, também se torna imagem para aquele que olha. Não para quem meramente olha, mas para quem observa com vontade imaginativa. Há espaço para nós na obra. Mais do que processo artístico, pensar nas coisas que estão no preâmbulo da imagem é prestar atenção à sua(s) visualidade(s), no sentido mais volúvel. Didi-Huberman fala que a imagem, como a mariposa, não permanece. Já o seu desaparecimento, este sim é lembrado: “o que já não está permanece, resiste, persiste tanto no tempo como em nossa imaginação, que o rememora”. De modo semelhante, o que está antes do aparecimento da imagem, se faz presente, nos invade, altera o que vemos. E quando existe essa potência, não há nada que possa impedir uma imagem de evocar outras. Talvez seja o caso de, como bons espectadores, rememorarmos a origem dessas obras. Ninguém precisará saber se estivemos ou não presentes na sua feitura, porque agora estamos. Assim, observamos junto com Mari toda a vasta paisagem que não se compara à beleza de um prego torto no chão. Aprendemos o que é um corpo sem dor para podermos entender aquela mostrada/sentida por Tânia. Passeamos por cachoeiras para encontrar barulhos de que vamos lembrar na obra de Cristina. Enxergamos através dos vidros das portas fechadas por Leonice e trazemos espelhos para que o duplo de Audrian o habite. Somos o outro para quem Sônia não se mostra, mas que, contraditoriamente, a vê. Já dissemos á Diana a hora, o nome, quem somos, quem amamos e todos o nosso passado, enquanto esse ônibus não chega. Estamos no antes e não conseguiríamos não adentrá-lo.

Diane Sbardelotto

ADENTRO - Associação dos Artistas Visuais da Região Oeste de Santa Catarina

Prefeitura de Chapecó - Secretaria de Cultura

Local: Galeria Municipal de Arte do Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo De Nes

Período expositivo: 07/10/2015 a 27/11/2015

Agendamentos: (49) 3319-1010

Fundação Cultural de Chapecó e Prefeitura de Chapecó

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Chapecó/SC - CEP: 89801-222

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