Na segunda-feira (31) acontece na Escola de Artes de Chapecó a abertura da Exposição Axé em Estandarte. Organizada pelo coletivo Aféfé, oferece um mergulho nas vivências culturais e religiosas do Ilé Asë Aféfé t`Oyá. - Templo de Tradição a Orixá e Umbanda e Centro de Memória, Arte e Cultura Afro-Brasileira, uma Comunidade de Terreiro localizada no bairro Santo Antônio em Chapecó Santa Catarina, dirigida pelo sacerdote Babá Làdjá (Dyonathan de Morais). Os interessados em visitar a exposição, que fica disponível até o final do mês de abril, devem realizar o agendamento pelo (49) 3322-3690.
Ilé Asë Aféfé t`Oyá significa, em ioruba, "Casa cujas forças provém dos ventos de Oya". Nesses ventos (aféfé) soprados pela bela Oyá, poderosa. Orixá do panteão iorubano, vivemos experiências plurais, onde diferentes cultos como Umbanda, Encantaria. Kimbanda e o culto tradicional a Orixá convergem em um cenário de efervescência cultural pleno de Axé, a energia vital que move as Comunidades de Terreiro.
As obras apresentadas nesta exposição, os estandartes, são pinturas temáticas confeccionadas especialmente para as festas anuais do Terreiro. O projeto teve início com os preparativos para a Fogueira. Cigana de 2022. que homenageía as entidades do Povo Cigano na. Umbanda. A festa, que se estende do dia de Santa Sara Kali ao dia de São João Batista, carrega em sua estética tanto elementos ciganos quanto elementos do catolicismo popular, por conta das relações sincréticas que existem na Umbanda. A expansão do uso de estandartes para outras festas do Terreiro resultou em um permanente projeto de produção artística, compondo um acervo de obras dedicadas a diferentes entidades cultuadas no Ilé Asé Aféfé t`Oyá.
Em um Terreiro tudo é feito em comunidade, pois ela é a base da vivência no Axé. Portanto, a produção dos estandartes é também um processo coletivo, pois desde a concepção do conceito até os acabamentos finais, os artistas Artur Eichstedt, Dyonathan de Morais, İris Alba, Kairo Madah, Lucas Araújo e Luiz Carlos Pires são auxiliados por seus irmãos de fé, num processo de criação e manutenção do Axé que nutre as relações.
Através da apreciação artística, o Coletivo Aféfé convida o público a deixar-se embalar por esse vento ancestral, a percorrer conosco o processo coletivo de partilha do Axé, a conhecer a arte afro-brasileira e suas expressões, simbologias e memórias. Essas pinturas não são apenas retratos decorativos, elas são símbolos identitários de resistência cultural e religiosa das Comunidades de Terreiro, verdadeiros espaços de formação humana que salvaguardam os saberes, ancestralidades e modos de vida de povos historicamente marginalizados que tiveram suas culturas negadas, apagadas e silenciadas.
Os estandartes refletem a interculturalidade e a riqueza afro-religiosa, pois retratam ancestrais africanos e afrodescendentes, indígenas, caboclos, ciganos, e de outras ascendências que muito lutaram para manter suas tradições e crenças vivas em meio às violências coloniais sofridas. Nesse sentido. Coletivo Aféfé continua o legado de resistência deixado por suas entidades, lutando contra o racismo e a intolerância religiosa, através da arte e proporcionando ao público a oportunidade de conhecer a cultura afro-brasileira.
Texto: Kairo Madah da Costa. Moraes Curadoria: Dyonathan de Morais